sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Jornal A Notícia | Joinville

12 de janeiro de 2011. | N° 1008Alerta

Etnias

Uma das descobertas feitas pela equipe de 40 arquitetos que o Instituto Silva Paes reuniu no Projeto Vita et Otium é que temos, em Santa Catarina, uma estreita relação entre a forma de ocupação de nossa planície costeira e as etnias responsáveis por estas ocupações.

Os portugueses, especialmente os açorianos que vieram para se fixar em nosso território, sempre o fizeram à borda d’água. São Francisco, Penha, Itajaí, Laguna, Florianópolis e tantas outras freguesias tiveram sua existência vinculada à pesca e ao fornecimento de suprimentos para navios de toda sorte que percorriam nosso litoral.

Ainda na planície costeira, mas sempre afastados do mar e levando um modo de vida interiorano, encontramos uma rede de povoações fundadas já nos séculos 19 e 20 pelos imigrantes centro-europeus, com predominância para alemães e italianos. Assim podemos ir da nossa Vila Nova, passando por Massaranduba, São João do Itaperiú, Canelinha, São Pedro de Alcântara, Caldas da Imperatriz, Orleans entre tantas antigas sedes de colônias agrícolas, sempre andando entre dez e vinte quilômetros do oceano. Hoje, é possível estabelecer um roteiro cultural e turístico sem subir a serra, tampouco voltando ao litoral, visitando e saboreando essas cidades de natureza tão distinta das suas vizinhas costeiras.

A fronteira entre essas cidades e as cidades costeiras é quase sempre a BR-101, eixo de ligação que vem transformando nosso litoral em uma grande cidade linear.

Hoje podemos perceber a continuidade da malha urbana a partir da lagoa de Barra Velha se estendendo por Piçarras, Penha e Navegantes, continuando por Camboriú, Itapema e Porto Belo, e depois de uma breve interrupção no Vale do Rio Tijucas, prossegue de São Miguel a Palhoça.

Já é o momento de se propor uma prática de planejamento que integre todos esses municípios, em sua maioria não dotados de estruturas eficazes de planejamento e controle urbanístico, tampouco conscientes de seu papel como elos de uma grande cadeia de desenvolvimento.

O Projeto Vita et Otium apresenta as primeiras propostas, com o tempero de uma certa utopia, mas com fundamentos racionalíssimos. Uma ferrovia ligando todas as cidades costeiras, a 101 com eixo organizador dessas relações, as faixas de conectividade natural entre a serra e as bacias dos principais rios sendo preservada, a urbanização e a industrialização ocorrendo de forma adensada e planejada nas áreas mais propícias, com saneamento básico e transporte coletivo. E a visão de que todo o litoral deve ser pensado com um só corpo.

marcel@jass.com.br

MARCEL VIRMOND VIEIRA, ARQUITETO E URBANISTA

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