terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Projeto Vita et Otium

NELSON SARAIVA DA SILVA e MICHEL DE ANDRADO MITTMANN
Coordenadores do Projeto Vita et Otium

O Projeto Vita et Otium, resultante de minha tese de doutorado defendida na FAU/USP em 2006, busca a qualificação da cena cotidiana da vida litorânea e sua propalada vocação ao ócio. Como orientadores da conversa entre paisagem natural e construída a ser desenvolvida pelos exercícios propositivos físicos-espaciais, caracterizadores do projeto, temos a importância dos conceitos de Unidade de Paisagem, Conectividade e Ecogênese.

De um lado a paisagem natural representada pela cena dos biomas Mata Atlântica e Marinho e seus ecossistemas, e de outro, a paisagem construída representada basicamente pelos assentamentos humanos rurais e urbanos interligados por diferenciadas redes modais. A costa catarinense distingue-se, segundo Ab´Saber, como segunda pontuação mais recortada de todo o litoral brasileiro conformada por trechos diferenciados da paisagem natural. Em virtude desta paisagem natural excepcional e muito atrativa, pessoas de variadas procedências, escolhem as amenidades litorâneas catarinenses para viver ou recrear, desde sua articulação viária, ao resto do país e ao tráfego internacional, com a construção da BR101, em 1970.

Sedia hoje, nova e importante centralidade, constituída por crescente conurbação de cidades industriais, portuárias, terciárias ou, dominantemente, de verão, com também crescentes problemas ambientais, resultantes do embate entre o invulgar patrimônio natural e a cidade de pedra inventada pelo homem. A supervalorização turística de praias e enseadas forçou alguns municípios dessa fachada urbana atlântica a transformar todas as suas áreas rurais em áreas urbanas, desaparecendo, desse modo, as áreas de amortecimento representadas pela paisagem rural.

Planejadores e arquitetos têm se detido nas respostas ambientais do projeto na escala do edifício, enquanto na escala urbana não percebemos resultados práticos, como campo de pesquisa a se desenvolver com urgência. A compreensão da dinâmica ambiental-urbana não correlaciona a solução da arquitetura (espacial, tecnológica, entre outros) nas suas diversas escalas com o ambiente que esta se insere. Condenam-se determinados modelos de ocupação em detrimento de outros, sem uma avaliação real de seus desempenhos. Exemplifica o tradicional embate entre a cidade compacta e a cidade espalhada no território.

É da competência do arquiteto projetar. Este é o papel que se espera deste profissional no planejamento urbano multidisciplinar. Ter ciência dos significados das propostas, das soluções e de como isto afeta a sociedade nas mais diversas expectativas (econômicas, culturais, sociais, estéticas, ambientais, entre outras) deve ser prioritário. Contrariando à lógica, os arquitetos têm abandonado este universo da sua competência.

Está nas mãos dos arquitetos parte da resposta para a falta da proposição da estrutura espacial do território e da cidade, em especial daquela de caráter público, buscando a reversão do processo de falência da forma urbana enquanto mantenedora de atributos fundamentais da cidade, especialmente no que tange à forma e apropriação social dos lugares.

Nesse sentido persiste o desafio aos arquitetos representado pela agenda contemporânea de questões prementes relativas à organização do território bem como a forma urbana da cidade litorânea.

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